Lixo e entulho do tsunami dividem sociedade japonesa

A união dos esforços da sociedade japonesa para a reconstrução após o tsunami tem o seu ponto fraco: como lidar com os destroços das províncias do nordeste, que também teve suas instalações de tratamento de lixo afetadas na tragédia. Apesar do empenho de autoridades do sul do país em oferecer ajuda - em troca de benefícios financeiros -, a população é contra o recebimento do material por medo dos efeitos da radiação.
Mais de 90% das mais de 20 toneladas de escombros ainda aguardam um destino. As províncias de Miyagi e Iwate, vizinhas de Fukushima e entre as mais castigadas pelo tsunami, são as que mais encontram dificuldades para lidar com os destroços. A ideia do governo é incinerar e aterrar o material com o apoio de cidades de todo o país.

O entulho tem índices baixos de radiação - o lixo dos subúrbios no norte de Tóquio nas semanas após o acidente nuclear, por exemplo, apresentava números muito mais altos de contaminação, segundo autoridades. Para facilitar essa distribuição, as diretrizes sobre radioatividade foram aliviadas. Antes, o lixo que apresentasse mais de 100 becqueréis por quilograma deveria ser monitorado. Hoje, apenas o material que tiver mais de 8 mil becqueréis por quilo será acompanhado, mudança 80 vezes maior que antes do acidente em Fukushima.
Tóquio foi a primeira cidade a receber os destroços do nordeste. Para dar o exemplo para o resto do país, aceitou incinerar e aterrar os resíduos das cidades de Onagawa e Ishinomaki, na província de Miyagi e a cerca de 130 km de Fukushima, e de Miyako, em Iwate, a mais de 270 km da usina. Segundo a direção do aterro de Tóquio, o lixo com baixo índice de radiação é incinerado e aterrado com o resíduo comum da capital, e apenas 10% do material tratado na capital hoje vem do nordeste.
Como o aterro fica numa região marítima e distante de onde a população vive, não houve reclamações dos cidadãos da capital. Entretanto, as mais de 60 mil crianças que antes faziam visitas monitoradas anuais nas instalações, não passam mais pela área de aterro após críticas dos pais sobre os riscos da radiação.
O diretor do aterro, Akira Takahashi, disse ao Estado que o lixo com mais de 8 mil becqueréis por quilo recebido no local veio todo do subúrbio de Tóquio nas semanas posteriores ao acidente por causa da nuvem de radiação que atingiu a capital. Segundo ele, são feitas medições semanais dos índices de radiação e apresentadas para a população na internet. "Não é zero, mas não são índices preocupantes. São semelhantes às medições feitas no centro de Tóquio", diz o diretor.
O material com alta contaminação recebe um tratamento especial: é aterrado em pequenos contêineres maleáveis de cerca de 30 cm, numa região protegida por mantas impermeáveis e protegidos com sacos de areia para evitar o contato com o solo. Outra manta impermeável é colocada acima do solo e visível, protegendo o material da água da chuva e sinalizando onde o lixo contaminado está depositado.

"A imagem de Fukushima prejudicou muito a ajuda para as províncias vizinhas. É muito difícil conseguir a confiança da população, mas tentamos ganhá-la divulgando informações sempre", afirma o diretor do aterro. "Os governos de outras províncias querem cooperar, mas a desconfiança dos moradores impede. Se o aterro tem vizinhos ao redor, dificilmente eles serão compreensivos para receber o lixo do norte."
Segundo o porta-voz do primeiro-ministro Yoshihiko Noda, Noriyuki Shitaka, será preciso mais de uma década para reconstruir as estruturas para tratamento de lixo das províncias devastadas. O governo ressalta que o material nos arredores da usina de Fukushima não será enviado para as cidades que aceitarem colaborar. "Acreditamos que quando mostramos transparência, divulgamos informações confiáveis, garantimos incentivos financeiros e pedimos apoio na assistência às essas comunidades nesse momento difícil, podemos obter maiores progressos", afirma o porta-voz. Para a população, entretanto, o governo demorou muito para confirmar o vazamento nuclear de Fukushima e para tomar as medidas necessárias.
Protestos. A recepção dos caminhões com destroços do nordeste em Kita Kyushu, no sul do país, não foi calorosa. A população tentou impedir a passagem dos veículos que levavam o entulho - com menos de 100 becqueréis por quilo. Após a intervenção policial, o material foi liberado e incinerado. A principal reclamação é o temor de que a radiação contamine o ar no processo de incineração e seja espalhada pelo país. O governo insiste que o processo é seguro, e a prefeitura de Kita Kyushu deve liberar para a população neste mês um relatório sobre a incineração e a radiação liberada no processo.

Fonte:Estadão

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