Ainda tímidas, iniciativas verdes e de baixo custo dão alento

Numa cidade que está longe de ser exemplo de desenvolvimento sustentável, ou seja, com respeito ao meio ambiente, iniciativas isoladas destacam-se como bons exemplos a serem seguidos: do morador que decidiu criar em casa um sistema de reutilização de água e aproveitamento da energia solar para esquentar o banho da família aos prédios erguidos já com a previsão de cultivo de telhado verde, vidros isotérmicos nas janelas para reduzir o uso de ar-condicionado, coletores seletivos de lixo e sensores de presença para evitar desperdício de luz. A construção pode ficar até 10% mais cara, mas o futuro gasto com energia chega a ser reduzido pela metade.

Depois da caixa d'água e coletores aquecidos pelo sol (basta um mormaço para dar conta de dois chuveiros) e das calhas para recolhimento de água da chuva, Hans Rauschmayer, alemão radicado no Rio há dez anos, planeja a instalação de placas fotovoltaicas para baixar ainda mais a dependência da eletricidade - hoje a conta da família de cinco pessoas é de apenas R$ 50. A água da chuva serve ao vaso sanitário e para regar as plantas.

Tudo foi preparado com o manual da ONG Sociedade do Sol, que ele baixou na internet (www.sociedadedosol.org.br) e materiais baratos, como tubos de PVC. Rauschmayer trabalhava com informática, mas, seguindo a tradição alemã de preocupação com a ecologia, passou a se interessar mais pela questão. Em 2003, começou a fazer as transformações em casa.

O passo seguinte foi fundar a empresa Solarize Rio, que oferece treinamento para aplicação rápida do que chama de "tecnologia popular do aquecimento solar de baixo custo", tanto para empresas quanto para pessoas comuns. "Queria disseminar algo que ninguém estava fazendo", diz Rauschmayer.

"É muito fácil de preparar, não precisa ter uma especialização, só alguma habilidade. A demanda tem aumentado, existe um movimento por conta da Rio+20, mas o Rio está atrasado em relação a cidades como São Paulo e Belo Horizonte. Eu ainda fico surpreso ao ver que no Brasil o Sol só é aproveitado na praia, ao contrário do que ocorre na Alemanha." O país é o líder do mercado mundial de energia solar, a despeito de seu clima.
O Rio não tem tradição de prédios ambientalmente corretos. Mas empreendimentos imobiliários do gênero têm feito sucesso.

Habitado há dois meses, o Ecolife Freguesia conquistou compradores ao oferecer diferenciais pouco vistos, como descargas com jato mais forte de água, o que torna desnecessário o duplo acionamento, e churrasqueiras ecológicas - a gás, e não a carvão. O gêmeo Ecolife Recreio, finalizado em abril, já está todo vendido.

Certificação. Com paredes com camada dupla de vidro, que reduzem o consumo de ar em até 60%, e corredores iluminados naturalmente, a Universidade Petrobrás, na Cidade Nova, é um dos primeiros prédios sustentáveis da cidade. Recebeu em 2008 a certificação internacional Leed (de Leadership in Energy and Environmental Design), desejada por outros 13 imóveis cariocas. Cumpriu o mínimo de 26 exigências numa lista de 69. Tem até vagas especiais para veículos que poluem pouco.

Um dos postulantes é o Colégio Estadual Erich Walter Heine, onde o esforço se vê nos detalhes: não há copos descartáveis; cada aluno e professor tem sua caneca para beber água. De telhado verde - que, entre outros benefícios, atenua a poluição atmosférica -, a escola, construída em formato de catavento, para maior circulação do ar, se autointitula a primeira instituição educacional sustentável da América Latina.

São casos esparsos, mas que tendem a se tornar mais numerosos, acredita o diretor do Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente (Nima) da PUC-Rio, Luiz Felipe Guanaes.

"As mudanças de comportamento são processos demorados. Os alunos que nasceram pós-Eco-92 estão chegando à universidade mais conscientes. Os materiais vão baratear, é uma nova sociedade que vai surgir."


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