Segunda geração de imigrantes brasileiros sofre exclusão no Japão


No final da década de 80, inicia-se o chamado – Movimento Dekassegui, que eram denominados os brasileiros descendentes de japoneses que iam trabalhar no Japão atraído pelos melhores salários.

Inicialmente, permaneciam no país aproximadamente dois a três anos e retornavam ao Brasil. Com o passar do tempo, melhora adaptados, acabavam permanecendo por um período maior e até se fixando definitivamente no país, constituindo família.  Os filhos nascendo em território japonês acabaram se tornando um grande problema para os pais na questão da educação, pois muitas crianças acabam não se acostumando ao sistema educacional japonês.



Segundo o Itamaraty, a dificuldade de integração de brasileiros nascidos ou criados no Japão é mais grave, onde há, segundo o ministério da Justiça japonês, 36.869 crianças e adolescentes brasileiros até 14 anos de idade - 17,55% do total de brasileiros residentes.

Diferentemente dos pais, eles não aceitam ser tratados como estrangeiros, mas esbarram em dificuldades como não dominar o idioma como os nativos.

Segundo a ministra Luiza Lopes da Silva, diretora do Departamento Consular e de Brasileiros no Exterior do Itamaraty, sem o domínio completo da língua, acabam sendo identificados facilmente pelos japoneses e tratados como estrangeiros - mesmo sendo cidadãos do país.

"Os pais (desses jovens) vieram ao país com uma mentalidade diferente, só para trabalhar. Já a segunda geração vê (no cotidiano do japonês) como poderia ser a vida deles e como ela não é", disse a ministra.

Esse problema não existe, segundo ela, em países onde o idioma é de mais fácil assimilação como os Estados Unidos e a Grã-Bretanha.

Evasão escolar
De acordo Lopes da Silva, a segunda geração tenta freqüentar escolas japonesas, mas muitos acabam abandonando as carteiras escolares e assim diminuindo suas chances de inclusão.


Os motivos da evasão são a dificuldade dos cursos e a incapacidade dos pais, que também não dominam a língua perfeitamente, de dar apoio nas tarefas de casa, algo essencial no sistema educacional japonês.

Segundo a ministra, outro termômetro dessa falta de integração é a baixa quantidade de casamentos entre japoneses e descendentes de brasileiros.
Além da barreira do idioma, as diferenças culturais e a alta concorrência no mercado de trabalho dificultam ainda mais a integração.

Anderson Yuiti Kinjo, de 18 anos, nasceu no Japão, mas nunca frequentou a escola japonesa. Terminou o ensino médio em uma instituição de ensino brasileira.

"Na época que comecei a estudar, havia muitos boatos sobre bullying contra estrangeiros nas escolas japonesas e, por isso, meus pais optaram pelo ensino em português".

"Gosto muito do Japão, falo bem o japonês, mas não me sinto completamente à vontade aqui", disse o rapaz, que planeja voltar para o Brasil para continuar os estudos. Ele não está satisfeito com o emprego em uma linha de montagem de eletrônicos na província de Gunma.

Ao contrário de boa parte dos colegas, Yudi Taniguti, também de 18 anos, conseguiu acompanhar a escola japonesa. Ele chegou ao Japão com os pais, vindo de Caldas Novas (GO), quando tinha 2 anos de idade.

Taniguti trabalha em uma fábrica de eletrônicos. "Minha mãe fala que a vida no Japão vai ser sempre a mesma, sem oportunidades. Já no Brasil acho que teria mais chances", disse.

No limbo
"A situação dos filhos de imigrantes deve ser sempre acompanhada com atenção. Se crescer já é um processo cheio de descobertas, mesmo no país natal, o desafio é muito maior quando se mora em um país tão diferente", disse o diplomata Paulo Henrique Batalha, da Embaixada do Brasil em Tóquio.

Já o sociólogo e professor da Universidade Musashi, Angelo Ishi, afirmou que os filhos de brasileiros correm o risco de não dominar bem nenhum dos dois idiomas.

"Não importa se é o português ou o japonês, o jovem tem de estudar e aprimorar os conhecimentos a ponto de poder manejar pelo menos uma língua em nível avançado", afirmou.

Para Ishi, esses jovens estão num 'limbo' entre a sociedade japonesa e a comunidade brasileira no Japão.

"A ironia é que, quanto mais um jovem sobe um degrau de escolaridade e se integra à sociedade japonesa, no geral, ele acaba se distanciando dos conterrâneos. Por isso, a comunidade brasileira continua órfã em termos de jovens líderes bilíngues".

Para tentar amenizar os problemas enfrentados pelos jovens brasileiros, o governo brasileiro e japonês, e a iniciativa privada têm desenvolvido projetos.

Entre eles, está o Arco-Íris, do Ministério da Educação do Japão. Criado em 2009, o programa tem como objetivo a escolarização das crianças estrangeiras que moram no Japão.

Com ênfase no ensino da língua japonesa, o objetivo dele é facilitar a transição de alunos de escolas brasileiras para o sistema de ensino público japonês, gratuito. Mais de cinco mil jovens já foram beneficiados pelo projeto.

O Itamaraty vem monitorando o problema e tem projetos semelhantes de assistência a estudantes. O principal deles funciona em Hamamatsu.

Para Ishi, o grande desafio das próximas gerações de filhos de imigrantes brasileiros é conquistar diplomas universitários. "Não há fórmula segura para ascensão social, seja em qual país for, que não seja através dos estudos", afirmou.

Fonte: BBC Brasil

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