Japão e sua Tecnologia Invisível.

Alguns momentos antes dos fatídicos e intermináveis minutos que durou o Terremoto de Tóquio uma avó estava acompanhando o neto pela webcam da creche. É um serviço comum, até no Brasil e comum escolinhas disponibilizarem sites para os pais ficarem de olho em seus pimpolhos. Felizmente, não presenciaram o que a avó testemunhou: O maior terremoto em cem anos a atingir o país. As seis professoras da creche, lembrando-se de seu treinamento pegaram travesseiros e almofadas, protegeram as crianças enquanto as cobriam com os próprios corpos.

vídeo ensina como se proteger no caso de terremoto

Felizmente a tecnologia japonesa está 250 anos no futuro, e um terremoto de 9.0 graus, deslocando energia equivalente a 2 milhões de bombas de Hiroshima não abala um prédio com alicerces de Adamantium, ou seja lá o que usem. Nada aconteceu, as crianças ficaram bem, mas uma das mães teve problemas. Só conseguiu chegar à creche às 22h, para encontrar seu filho de dois anos como a única criança remanescente. Mas não sozinho, as seis professoras ficaram com o garoto até a chegada da mãe.

Não foi surpresa, a sogra estava acompanhando de casa, pela webcam, e repassando o status da criança para a mãe, via celular. Em nenhum momento a Internet caiu. O Japão durante essa crise foi e está sendo o Anti-Egito, a Anti-Líbia.  Não só a Internet ficou no ar como os habitantes correram para as redes sociais, compartilhando informações, mantendo contato com parentes e amigos, informando o mundo da situação através de relatos, fotos e vídeos.

Durante as primeiras horas após o Tsunami a situação nas ilhas do Pacífico era acompanhada pelas emissoras de TV locais, além das webcams de voluntários.

A Internet funcionou à perfeição. O sistema automatizado de alerta contra terremotos e tsunamis entrou em ação automaticamente, em algumas localidades as pessoas foram avisadas por rádio, TV e SMS até 2 minutos antes dos tremores principais. Nos dias que se seguiram diversas atitudes tomadas pelas empresas japonesas tentaram aliviar a situação da população. Via Internet às máquinas de vendas de comida nas regiões mais afetadas foram programadas para distribuir seus estoques gratuitamente. As operadoras telefônicas liberaram as ligações dos telefones públicos.

A comunicação com o exterior foi garantida, os cabos submarinos japoneses foram projetados para resistir a terremotos, ao contrário dos de Taiwan, que se romperam no Terremoto de Março de 2010. Essa eficiência suíça dos japoneses fez que por um momento o resto do mundo se sentisse como o Japão; 250 anos no futuro. Não nos espantamos com a tecnologia funcionando, achamos perfeitamente natural a Internet ficar de pé e as ferramentas foram usados como… ferramentas.

Ao contrário do que ainda é comum na mídia, a mensagem foi à mensagem, o meio era irrelevante. Acompanhar os vídeos assustadores era mais importante do que discutir o efeito do YouTube sobre as gravadoras. As informações recebidas via Twitter eram mais importantes do que o fato de estar recebendo informações via twitter.

Por um breve momento a Internet saiu de sua infância, ela se tornou algo tão natural quanto o serviço telefônico ou energia elétrica. Toda a tecnologia envolvida “apenas funcionou”, para citar um antigo slogan da Apple. E é assim que tem que ser. Saímos do Beta Eterno, saímos do “a próxima versão vai funcionar legal” e pelo menos por algum tempo experimentamos como é um mundo onde a tecnologia avançada não é uma experiência em andamento, mas uma realidade.

O sistema de alerta antecipado de terremotos do Japão já funciona faz tempo, mas depois da última atualização passou a enviar mensagens automáticas de alerta para trens, escolas, linhas de produção industrial e até elevadores. Esses pontos todos podem manual ou automaticamente se preparar para um tremor.

Já o sistema de alerta de tsunamis, formado por boias de quatro toneladas, sensores instalados a até 6 km de profundidade e comunicação bidirecional via satélite alertou com 15 minutos de antecedência da existência de um tsunami a caminho da costa. Neste momento a contagem de mortos no Japão mal chega a quatro mil. Estimativas projetam o total de vítimas do maior desastre natural da história do país em torno de 10 mil almas.

Já no Tsunami de 2004 a Índia perdeu mais de 10 mil habitantes, mesmo tendo 3 horas de aviso. O motivo dessa disparidade? Em 2004 ninguém estava preparado. Depois disso o Japão aprendeu a lição, da forma mais cruel e menos dolorosa: Vendo os outros quebrando a cara. Sentaram em volta da mesa e decidiram criar “O” sistema de alerta contra Tsunamis. Levaram três anos, o sistema entrou no ar em 2007, mas havia uma exigência primária: Teria que funcionar. Sem ajustes, sem erros, sem correções de última hora. Conforme demonstrado nos fatídicos dias de Março de 2011, o alerta funcionou. Usado pela primeira vez em condições reais, teve desempenho impecável.

Fonte: Techtudo

Comentários

  1. Lembro do repórter espantado da calma dos japoneses. Mas nessas horas só nos basta ter calma, violência, vandalismo e desespero não ajudam em nada. O Japão é um país lindo e o que mais gosto é da empatia pelo próximo, a vida em comunidade, neste aspecto o brasileiro é um pouco egoísta.

    ResponderExcluir
  2. As professoras não tinham filhos ou outros familiares que também poderiam estar em apuros e precisando delas? Não vejo isso como humanidade porque sentimentos humanitários não podem ser só de um lado quando todos foram atingidos, a menos que na admissão ao cargo exijam que elas não tenham família e/ou aceitem morrer pelos outros enquanto dos seus ninguém cuida, na hipótese de terem filhos, parentes, etc. Algumas vidas valem mais? Assim não serve como modelo, desculpe discordar! Crianças devem ficar em casa com as mães, pelo menos, e somente após os 3 ou 5 anos irem para algum tipo de escola. Bebês em creches e berçários é um horror, quem não puder ficar com eles em casa que não os tenha.Que se revesem pai e mãe em casa e no trabalho para que as crianças não precisem ir para depósitos, porque creches são, mesmo no 'primeiro' mundo, meros depósitos. Ah, mas os pais precisam trabalhar, a mulher precisa ou quer uma carreira? Se não puderem oferecer a cada um dos pais um trabalho em horário alternativo, não tenham filhos. Vão ter de escolher o que é mais importante:filho ou trabalho. Cortem gastos, consumo, ao que somente um
    cônjuge puder bancar. Eu que achava que no Japão professores não fossem isso, reles escravos sem direito a deixar os filhos alheios e ir socorrer e cuidar dos seus. Se bem que em creches não seriam bem professores, mas somente cuidadores, babás.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Se elas têm filhos em idade escolar pode ter certeza de que haviam outras professoras fazendo o mesmo pelos filhos delas. Essa é a diferença de um lugar onde as coisas funcionam para o cada um por si que temos no Brasil.

      Filho ficar em casa com a mãe até os cinco anos? Isso não é saudável nem para a criança.

      Excluir
    2. Minha cara Lia, realmente o Japão é bem diferente do Brasil, lá as crianças são preparadas desde pequenas para o mundo, enquanto que aqui n o Brasil, o tratamento é diferente. Veja meu novo post, "Criando os filhos para o mundo", que você vai entender melhor a respeito.

      Obrigado pelo comentário

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Mogiano lembra os bons tempos do Palacete Jafet

Estrangeiros contam as dificuldades de ter uma esposa japonesa

Japão é campeão de reciclagem de latas de alumínio