Como Fukushima virou um martírio atômico sem fim
O conhecimento popular diz
que o tempo cura tudo. Em se tratando da usina de Fukushima Daiichi,
fortemente danificada pelo terremoto e pelo tsunami de 11 de março de 2011, isso pode significar décadas: a árdua
tarefa de desmantelar a central tem duração estimada de 30 a 40 anos.
Devido aos estragos provocados, é
difícil precisar quantas surpresas vão aparecer no caminho. Prova disso é o
vazamento de água contaminada
com materiais radioativos, entre eles iodo, estrôncio, césio e plutônio, que se
tornou, hoje, o principal desafio da operadora, a Tokyo Electric Power Co, ou Tepco.
Pouco antes, em 2012, o alarme de emergência disparava
repetidamente por outro problema, o aquecimento dos reatores, já resolvido. Mas
quando tudo parecia relativamente controlado, o vazamento de água veio à tona,
mergulhando a usina em nova crise, que se
intensificou esta semana. E uma crise difícil de resolver.
O governo japonês informou que, diariamente, cerca 300
toneladas de água radioativa vazam para o mar. Parte do volume contaminado vem
das reservas de água usadas na refrigeração dos reatores. Outro agravante é a
contaminação do subsolo da usina, por onde passa um grande fluxo de água que
desce das montanhas que circundam a usina.
Para conter o vazamento, a Tepco e as autoridades do Japão estudam adotar uma medida
drástica: congelar o subsolo, criando assim uma barreia ao fluxo de água que
segue para o mar. A expectativa é que o governo solicite fundos do orçamento do
próximo ano fiscal para ajudar a financiar a empreitada.
Enquanto a solução mais
efetiva não chega, a operadora começou a bombear a água que se acumula no
subsolo dos reatores e armazená-la em mais de mil contêineres. Mas é preciso
correr contra o relógio – amostras indicam que o índice de radioatividade
detectada na água subterrânea sob a usina de Fukushima aumentou 47 vezes nos
últimos cinco dias.
Peixes “radioativos”
O vazamento de água contaminada para o mar tem potencial de afetar
drasticamente a fauna marinha mesmo em regiões afastadas, onde a concentração
de sustâncias tóxicas seria menor.
Em julho, um caso virou manchete dos jornais locais. A dezenas de
quilômetros da usina de Fukushima, um robalo capturado revelou um nível de
radioatividade inédito em um pescado desta espécie, 10 vezes superior ao limite
autorizado no Japão.
O governo do Japão proibiu a pesca comercial na área, cerca de 200
quilômetros a nordeste de Tóquio. Mas a contaminação parece não encontrar
barreiras. Em fevereiro, quase do outro lado do planeta, pesquisadores
encontraram, na costa da Califórnia, nos Estados Unidos, um atum contaminado
pela radiação de Fukushima.
Casos como esses são o retrato de como, mesmo dois anos após a
tragédia, os danos na usina japonesa de Fukushima continuam dispersos e
difíceis de serem conhecidos com precisão. Um verdadeiro martírio nuclear.
Fonte: Exame Meio Ambiente e Energia
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