Domínio ‘.ong’ quer fortalecer Terceiro Setor
A
internet está prestes a passar pela maior expansão de domínios desde sua
criação. Entre este ano e o próximo, serão lançados mais de 1.400 novos sufixos
pela Corporação para a Atribuição de Nomes e Números na Internet (Iccann, na
sigla em inglês). Além dos já conhecidos .com, .net e .br, passaremos a usar .book, .eco e .sporte uma série de outras
terminações.
A
Public Interest Registry (PIR), gestora do domínio .org – que bateu a marca de 10 milhões de sites no ano passado –
registrou os domínios .ong/.ngo, que estarão disponíveis em 2014, a fim de fornecer às
organizações não governamentais uma presença online mais segura na rede. Além
disso, todas as ONGs cadastradas serão agregadas em um portal de buscas, que
permitirá doações online.
“Ao
saber da expansão, pensamos: se novas terminações vão surgir e se somos os
advogados das organizações sem fins lucrativos, como essa comunidade poderia se
beneficiar dessa mudança na rede?”, disse ao Link Nancy Gofus, veterana na área de telecomunicações que dirige a PIR
desde janeiro de 2012. Em visita ao Brasil, ela falou sobre os desafios do
terceiro setor na internet e sobre o potencial do País nessa área.
Para
ela, os novos domínios representam não só mais opções de visibilidade para
marcas e organizações, mas uma verdadeira rodada de inovação na internet.
Assim, conta que a PIR resolveu aproveitar a oportunidade para registrar um
domínio que atendesse às necessidades de um público específico que hoje marca
ampla presença nos sites que utilizam o domínio .org: as organizações não governamentais (ONGs ou NGOs, em inglês).
Boa
parte de organizações do terceiro setor, sobretudo em mercados emergentes, se
depara com o obstáculo de provar sua legitimidade na internet, principalmente
no caso de transações financeiras. Segundo pesquisa da PIR realizada em maio
deste ano, duas a cada três pessoas se sentem mais encorajadas a fazer doações
quando o site tem um domínio credenciado. Três quintos se sentem seguros em
fazer um pagamento em um site .gov.br, por exemplo.
“Além
da questão da credibilidade, muitas dessas organizações enfrentam problemas
para serem achadas, sobretudo em regiões como leste da África e Índia, onde
muitas vezes há dificuldades na conexão de internet”, diz Nancy. Ela destaca
que outra dificuldade apontada pelas entidades com as quais trabalha é a troca
de experiências com outras ONGs que realizam trabalhos similares, para a troca
de informações, estratégias e desafios.
A
partir dessas questões, a PIR registrou o domínio .ong/ngo, destinado
apenas a organizações não governamentais que buscam oportunidades para
engajamento público, financiamento e parcerias.
Para
obter os domínios – a empresa obterá tanto o .ong quanto o .ngo –, haverá um processo de validação para atestar que a organização
não tem fins lucrativos, é independente e legal. “Você tem de estar em nossa
base de dados para podermos checar se, dentro das leis do país em que você
opera, você é uma ONG legítima”, diz Nancy.
Além
disso, todas as organizações cadastradas com o domínio serão agregadas em um
portal comum. Nele, o usuário poderá fazer buscas por nome, país, região, ou
causa defendida – como combate à fome, construção de casas, geração de
empregos, entre outros. “Cada ONG terá um pequeno perfil com informações sobre
o seu trabalho, links para mídias sociais, vídeo… além da possibilidade de
receber doações pela plataforma.”
Nancy
aponta que o portal será útil não apenas para os usuários interessados em fazer
doações, que poderão navegar pela plataforma, fazer buscas e achar ONGs que a
interessem em todas as partes do mundo, como ajudará as próprias organizações a
tomarem conhecimento umas das outras e trocarem experiências.
Para
organizar e reunir tamanha base de dados, a PIR trabalhará em parceria com
outras ONGs e associações. “Queremos construir um diretório global de ONGs, que
atualmente não existe. Esperamos que essa iniciativa reúna a comunidade de ONGs
da mesma maneira que a internet reuniu o mundo todo. Estamos mudando a internet
para aqueles que estão mudando o mundo; e essa é uma missão muito empolgante!”,
diz Nancy.
O
domínio só estará disponível no ano que vem. Interessados podem entrar no site
da PIR e se cadastrar para demonstrar interesse e receber notícias. “Nos
cadastros que tivemos até agora, sem divulgação nenhuma, o Brasil já é o
terceiro lugar, atrás de EUA e Índia. A comunidade de ONGs aqui é muito diversa
e vibrante”, diz Nancy.
Redes
sociais. Nancy ressalta que, apesar da recente explosão de mídias sociais
nos últimos tempos, plataformas nas quais as ONGs tentam se fazer presentes –
como o Facebook e o Twitter –, as entidades ainda precisam de um site
estruturado para obter dinheiro. “Na rede social elas começam uma conversa com
seus doares; mas transações financeiras acontecem em um site”, diz.
Recentemente,
a regional sueca da Unicef fez uma campanha ressaltando esse aspecto.
Ironizando o “ativismo de sofá”, um vídeo que pedia doações para a compra de
vacinas contra a poliomielite trazia os dizeres “Curtir (no
Facebook) não salva vidas; dinheiro salva”.
A
diretora da PIR destaca a importância da linguagem audiovisual nos sites dessas
organizações. “O vídeo é extremamente importante. Você tem um ou dois minutos
para apresentar um problema e mostrar que você tem a solução”, diz. Como
exemplo positivo de bom uso da internet e da linguagem visual, Nancy cita a Charity
Water, ONG para levar água limpa para a quem não tem acesso, em países
emergentes.
“É
possível falar informar sobre sua doação em seu Facebook ou Twitter,
despertando interesse em mais pessoas”, diz Nancy. “A geração mais nova está
interessada em assuntos globais, querem resolver problemas fora de seus países.
As ONGs precisam explorar isso.”
Diversidade. O domínio .org completou 25 anos, e é
administrado pela PIR há dez anos. Por detrás desse sufixo está uma comunidade
ampla e diversa, que vai da Wikipédia, a maior enciclopédia online, ao
Craigslist, um site de classificados.
“É
fascinante a mistura de organizações que utilizam o .org: há organizações sem fins lucrativos, páginas de filantropia e
responsabilidade social de empresas privadas, times esportivos, associações
comunitárias e igrejas”, diz Nancy. “O que as liga é que geralmente são
indivíduos ou organizações que estão tentando reunir sua comunidade e têm uma
história para contar”, diz.
O
domínio .org é aberto e pode ser registrado
por qualquer pessoa, empresa ou corporação. Atualmente, há 10 milhões de sites
que usam essa terminação, sendo 39 mil deles brasileiros.
Fonte:Estadão
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