Baixo índice de natalidade no Japão compromete economia de pequenas cidades
Nas cidades mais afastadas das metrópoles japonesas, paira o ar
interiorano, tranqüilidade, índice de violência zero, excelente qualidade de
vida. Mas apesar de todos esses atrativos, uma grande preocupação tem ocupado a
mente dos governantes japoneses. O baixo índice de natalidade e o constante
aumento do número de idosos.
Os jovens ao atingir a maioridade, buscam empregos nas grandes
cidades, e abandonam suas cidades, permanecendo apenas os idosos.
Localizada a cerca de duas horas de trem da capital japonesa,
Onjuku sofre de um problema comum a quase metade das cidades, distritos e
povoados japoneses: a queda constante e crônica da população, que pode levar
inclusive estes municípios à extinção.
"É triste ver a cidade definhando aos poucos",
lamentou um morador da cidade. "Todo mês vemos no jornal local que o
número de mortes é sempre maior do que o de nascimentos", contou.
Segundo estatística do governo japonês, a população de Onjuku
diminui em média 0,5% ao ano. Em 1995, a população era de 8.129 pessoas. Em
2013, caiu para 7.632.
Se continuar neste ritmo, em 50 anos a população local será
pouco mais de 2,5 mil pessoas.
Dificuldades
Segundo o relatório de uma subcomissão do Conselho de Política
do Japão, quase metade dos municípios de todo o país poderá ter dificuldades
para continuar operando normalmente até 2040.
O estudo deu especial atenção à população de mulheres com idade
de 20 a 39 anos, pois elas são consideradas um fator-chave que irá determinar o
futuro da população japonesa.
O grupo, liderado pelo ex-ministro de Assuntos Internos, Hiroya
Masuda, definiu cidades, vilas e aldeias cujas populações provavelmente
diminuirão em pelo menos 50% ao longo do período 2010-2040.
Pesquisadores da comissão explicaram à BBC Brasil que a
estimativa foi feita com base em várias estatísticas do Instituto Nacional de
População e Pesquisa da Segurança Social.
No total, 896 municípios, ou 49,8% do total do país, foram
indicados como locais que podem desaparecer.
O relatório também alertou que 523 localidades cujas populações
estão abaixo de 10 mil moradores – o que representa cerca de 30% do total – têm
uma alta propensão a "quebrar" já nas próximas décadas, a menos que
medidas eficazes sejam tomadas.
"Infelizmente, esse problema tem sido ignorado há muito
tempo, porque ninguém quer falar sobre um futuro desfavorável. Agora, nós
(japoneses) devemos reconhecer essa grave questão", comentou uma fonte da
subcomissão.
Cidade grande
Em contrapartida, a população nas grandes cidades tem aumentado
o que sugere que as pessoas estão deixando os pequenos municípios, onde quase
não há oferta de emprego, para buscar oportunidades fora.
Kazuya Shiton, 25, de Onjuku, conta que está planejando deixar a
casa dos pais e buscar um emprego melhor em Tóquio ou outra cidade maior.
O jovem, que trabalha na construção de vias públicas, explicou
que o serviço atual é ruim e rende pouco dinheiro.
"Aqui também não há locais para lazer para os jovens",
lembra. "Todos os meus amigos já se mudaram para outras cidades. Não vejo
outra saída."
Para a subcomissão do Conselho de Política do Japão, o problema
mais grave é que muitos destes jovens que vão para a capital japonesa não têm
filhos.
"Criar uma criança em um ambiente como Tóquio é muito caro.
Além da dificuldade de encontrar creches, a assistência é pouca para os pais, o
que contribui para a baixa taxa de natalidade verificada na capital
japonesa", explicou a fonte da subcomissão.
Para tentar resolver o problema, o governo japonês deve anunciar
no próximo mês a criação de um comitê que vai tratar exclusivamente da
regeneração de cidades do interior, focado principalmente na criação de postos
de trabalho para jovens e no aumento da taxa de natalidade.
Contra a corrente
Por conta própria, o empresário americano Del Ricks abraça a
ideia. Instalado em Onjuku apesar dos riscos econômicos, ele é só sorrisos.
Há seis anos, Del Ricks e a companheira, a sul-coreana Kelly
Cho, abriram um negócio praticamente de frente para a paradisíaca praia da
cidade.
"Não tenho do que reclamar", falou. "Enquanto a
maioria dos comerciantes locais trabalha mesmo apenas dois meses por ano, nós
temos clientela fixa por oito meses."
Ricks dá aulas de surf, aluga equipamento para a prática do
esporte, tem uma lanchonete e ainda oferece quartos para turistas.
"Meu público não é o local. Trabalho com pessoas que vêm de
Tóquio", explicou.
Além dos turistas que curtem praia, o casal trabalha
principalmente com surfistas – que frequentam a cidade quase o ano todo –,
pescadores, mergulhadores e empresas que buscam lugares diferentes para fazer
festas para os funcionários.
Para o norte-americano, Onjuku poderia se tornar um local
atrativo se o governo investisse mais para trazer jovens empreendedores e
aposentados que moram nas grandes cidades.
"Aqui, o custo de vida é muito mais barato, além de ser
muito menos estressante", defendeu.
Fonte: BBC Brasil
Comentários
Postar um comentário