Empresa usa tecnologia para produzir um substituto vegetal para o ovo
O ovo de galinha é um dos
alimentos mais perfeitos do mundo. Ovos são baratos, abundantes e fontes
deliciosas de proteína. Eles também são extremamente flexíveis, capazes de
desempenhar até 22 funções culinárias diferentes numa enorme variedade de
alimentos.
Em bolos, os ovos prendem
os gases da massa, criando uma textura leve e arejada. Em maioneses, as gemas
estabilizam uma emulsão de óleo e ácido. Em bolos de carne, eles ligam ingredientes
díspares. Em pudins, eles engrossam líquidos para formar um gel.
Há apenas um problema com
os ovos. De acordo com Josh Tetrick, fundador de uma novata de tecnologia de
alimentos em San Francisco chamada Hampton Creek Foods, eles são extremamente
ineficientes.
A produção de ovos é o
segmento de crescimento mais rápido da agricultura intensiva já que sua demanda
explodiu em economias emergentes. Tetrick lembra que 1,8 trilhão de ovos é
produzido a cada ano no mundo, e a ração – feita basicamente de milho e soja,
culturas cujo cultivo requer grandes quantidades de terra, água e combustíveis
fósseis – é responsável por 70% de seu custo.
Tetrick acredita que pode
criar algo mais eficiente. Ele conseguiu financiamento de algumas das maiores
firmas de capital de risco da indústria de tecnologia para fazer o que a
maioria dos gourmands amantes de ovos, inclusive eu, considera tanto sacrilégio
quanto impossível: ele quer substituir ovo de galinha por fontes de proteína de
origem vegetal.
Na verdade, isso é simplificar
demais o objetivo da empresa: a Hampton Creek quer "superar" o ovo,
para criar alimentos sem ovos com um gosto melhor, livres de colesterol, que
durem mais tempo fora da geladeira, sejam ecologicamente mais sustentáveis e
mais baratos e não exijam o sofrimento de animais.
Este é um objetivo
ambicioso, e Tetrick admite que a empresa não está perto de alcançá-lo. Mas a
Hampton Creek está avançada o suficiente para ilustrar o poder da chamada
"engenharia de alimentos".
Para criar seus produtos
sem ovos, um batalhão de bioquímicos, cientistas de alimentos e engenheiros de
software da empresa está baseando seus esforços em processos usados pela
primeira vez nas indústrias farmacêutica e tecnológica. Se o plano der certo –
e meu paladar sugere que sim – a Hampton Creek pode mostrar como as técnicas de
inovação de software e da indústria de biotecnologia podem alterar setores além
do alimentício.
Considere a massa de
biscoito da Hampton Creek, por exemplo, que deve entrar no mercado em
fevereiro. Na minha prova, eles não eram doces demais, chegavam a ser até um
pouquinho salgados e tinham o equilíbrio perfeito entre crocante e cremoso.
E os biscoitos são quase
um benefício colateral da massa. Como a massa não leva ovos, não é preciso se
preocupar em assá-los. Ele vem numa embalagem que tem uma colherzinha encaixada
na tampa, como se fosse um sorvete de potinho.
Segundo Tetrick, há
argumentos fortes para a criação de um bom substituto para o ovo. Tomando
emprestado um termo favorito da indústria tecnológica, ovos não geram ganhos de
escala. Ele argumenta que sua produção exige demasiados recursos para que ela
cresça indefinidamente. E o executivo convenceu diversos especialistas em
tecnologia a participar de sua missão. Entre os investidores da Hampton Creek
estão a Khosla Ventures, Bill Gates e o Founders Fund de Peter Thiel.
Ao todo, a Hampton Creek
já captou US$ 6 milhões, com os quais Tetrick acredita que poderá no futuro
tornar ovos um produto "obsoleto" em todas as dimensões, incluindo o
preço. No momento, o substituto de ovos da Hampton Creek custa cerca de US$
0,86 por quilo, cerca de metade do preço de um quilo dos "ovos líquidos
pasteurizados" que já existem no mercado hoje.
"Queremos baixar o
preço de modo tão radical que seria estúpido considerar qualquer outra
coisa", diz.
Josh Klein, diretor de
bioquímica de pesquisa e desenvolvimento, compara a estratégia de substituição
de ovos da empresa ao processo de uma farmacêutica para combater uma doença.
Todos os dias, o laboratório testa dezenas de espécies de plantas novas, em
busca de aplicações que podem ser semelhantes às de ovos. Armado com um banco
de dados, eles misturam as plantas para criar novos alimentos sem ovo. Em
seguida, fazem um protótipo, experimentam e repetem o processo.
De certa forma, a Hampton
Creek trata alimentos como se fossem software, pegando emprestado vários
pedaços de código de diferentes tipos de plantas.
Até agora, os resultados
são muito bons. A Hampton Creek descobriu um tipo específico de ervilha amarela
que tem um poder fantástico de emulsão, gerando uma maionese que, segundo a
empresa, supera as principais marcas do mercado em testes de sabor.
Tetrick diz que, em
grandes quantidades, pode fabricar maionese sem ovo 10% mais barata que a
maionese convencional. Animadas pela ideia de um preço menor, muitas lojas da
rede de supermercados Whole Foods nos EUA passaram a usar a maionese da Hampton
Creek nos alimentos preparados na seção de pratos prontos (como a salada de
batata). Mas no varejo, a maionese da Hampton Creek não é muito barata: é
vendida por US$ 3,50 ou US$ 4,49 por frasco na maioria dos supermercados Whole
Foods. É mais ou menos quanto custa a maionese à base de ovo, mas Tetrick diz
que a Hampton Creek ainda poderia reduzir seus preços substancialmente.
Comentários
Postar um comentário