Gomennasai - a cultura da desculpa no Japão
Toda vez que explode um escândalo envolvendo políticos ou grandes empresas no Japão, pode-se ter certeza que, em poucos dias, a mídia do país vai estar saturada de imagens de burocratas ou executivos curvados pedindo desculpas formal e publicamente.
Na lógica ocidental da empresa, ela só deveria pedir desculpas caso as investigações determinassem que a culpa foi de fato da companhia, ou da empresa japonesa que cuidava da manutenção dos elevadores.
O gesto não é um padrão estipulado pela lei. Mais forte do que isso, a cultura do “gomennasai” (peço desculpas) é um ritual necessário em diversos momentos na vida do japonês, seja o motivo grave ou não.
De irresponsabilidades que resultam em mortes até o simples fato de se esbarrar em alguém na rua, pedir ou não perdão - por mais absurdo que possa parecer - faz a maior diferença, segundo as tradições nipônicas. Seguindo a formalidade a risca, e dependendo da enrascada em que a pessoa se encontra, um simples acenar com a cabeça e um “gomennasai” sussurrado bastam.Em casos mais radicais, o culpado faz o “doguezá” (ajoelhar-se com a testa quase encostada no chão) acompanhado de um “moushiwake arimasendeshita” em alto e bom som (algo como ’sou culpado e não tenho nada a declarar a meu favor’). Não tão extremo e trágico se comparado aos rituais feudais, em que as pessoas tiravam a própria vida como pedido de desculpa ao Shogun.
Uma história famosa que ilustra a honrosa retratação é a do general Akashi Gidayu, que cometeu o “seppuku”, ritual que consiste em cortar a própria barriga com uma espada, em 1582, após sua tropa ser derrotada em batalha.Para se ter ideia da dimensão que a cultura da desculpa pode tomar, governadores, ministros e até mesmo imperadores na história do Japão já fizeram seus pedidos formais de desculpas para reatar relações diplomáticas. Recentemente, o atual Imperador Akihito retratou-se com o presidente da Coréia do Sul pela ocupação japonesa na Coréia entre 1910 e 1945.
Por conta desse peculiar costume, empresas estrangeiras que se instalam no Japão muitas vezes cometem o erro de ignorá-la, pagando um preço caro por isso. O caso da Schindler, fabricante suíça de elevadores, é emblemático desse fenômeno. Após um acidente em um de seus aparelhos em junho de 2006, que resultou na morte de um adolescente de 16 anos, a empresa se limitou a colocar uma mensagem de condolências em seu site, seguindo suas normas padrões.A resposta da opinião pública foi furiosa, especialmente pelo fato da empresa não ter se desculpado devidamente. O oficial sênior da Schindler, Roland Hess, não escondeu o seu assombro. “A reação foi muito maior do que estamos acostumados em outros países”, informou ele.
“No Japão você pode muitas vezes ser perdoado se pedir desculpas rapidamente”, disse o consultor de controle de crise Tatsumi Tanaka. “Multinacionais estrangeiras costumam ter como política imposta por sua matriz não admitir culpa a qualquer custo”. Dessa forma, advogados corporativos do ocidente desaconselham seus clientes a se desculpar, pois o pedido de perdão seria também uma confissão de culpa.
Já a tradição nipônica exige o contrário. Por exemplo, a imprensa do arquipélago demonstra particular interesse se réus de crimes violentos mostram arrependimento frente à sociedade e família da vítima e é comum juízes levarem tais declarações em conta ao emitirem sua sentença.Para o japonês, o pedido de desculpas é visto muito mais como uma forma de submissão à sociedade do que uma declaração de culpa propriamente. É um gesto de humildade, que mostra a insignificância e submissão do indivíduo frente uma sociedade maior - e mais importante do que ele.
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