Japoneses criam filhos para que mulheres voltem ao trabalho


Manabu Tsukagoshi, consultor que mora em Tóquio, tirou um mês de licença-paternidade depois que seu segundo filho nasceu. Isso ajudou sua esposa, que era dona de casa, a conseguir um trabalho de tempo integral no setor financeiro.

“Quando me perguntam por que eu tiraria essa licença, já que minha esposa é dona de casa, eu respondo que é para que ela possa voltar a trabalhar fora”, disse Tsukagoshi, 38, que planeja tirar a licença novamente neste ano, da Toray Corporate Business Research Inc., quando sua mulher voltar ao trabalho depois de dar à luz seu terceiro filho.
“Precisamos de modelos de conduta para mostrar que há pais capazes de fazer isso”.
Embora Tsukagoshi esteja entre uma pequena minoria no Japão, o primeiro-ministro Shinzo Abe quer que os homens assumam papéis mais ativos no cuidado dos filhos, em uma campanha chamada de “Projeto Ikumen”, que pode ser traduzida como “homens que criam crianças”.
Apenas 1,9 por cento dos japoneses tiraram licença-paternidade em 2012, de acordo com os números do governo. O objetivo é elevar essa cifra para 13 por cento até 2020.
Algumas empresas da indústria financeira, como a Nippon Life Insurance Co. e a Meiji Yasuda Life Insurance Co., estão entre as empresas que reagiram com novos programas para estimular os homens a tirarem licença depois que seus filhos nascerem.
A Nippon Life, a maior seguradora do Japão, anunciou em 20 de março que a participação na licença-paternidade chegou a 100 por cento.
“O Projeto Ikumen ajudou muitas pessoas a perceberem que os homens podem ter um papel importante na criação dos filhos”, disse Masako Ishii-Kuntz, professora de sociologia na Universidade de Ochanomizu, em Tóquio.
“Dito isso, há um enorme abismo entre a situação ideal e a realidade, e esse abismo precisa ser superado”.
Mudança na cultura
O governo também está tentando aumentar a porcentagem de funcionários que tiram férias anuais pagas, de 47 por cento para 70 por cento, e a porcentagem de mulheres que voltam ao trabalho após dar à luz, de 38 por cento a 55 por cento, até 2020.
Se a licença-paternidade e a participação das mulheres na força de trabalho aumentarem, “toda a sociedade provavelmente crescerá e se tornará mais próspera”, de acordo com os objetivos da política do Projeto Ikumen, delineadas em seu site.
“Vemos mais jovens pais de terno e carregando bebês em porta-bebês, então é óbvio que o clima está mudando”, disse Ishii-Kuntz. “Para que os homens comecem a ver a licença-paternidade com outros olhos, primeiro a cultura deve mudar”.
De acordo com a lei japonesa, os funcionários homens com filhos pequenos têm direito a um ano de licença se tiverem trabalhado durante mais de 12 meses para o mesmo empregador. Durante o período da licença esses funcionários podem solicitar os benefícios de desemprego do governo e o empregador não é obrigado a pagar os salários.
“Nosso maior desafio é que isso seja a norma”, disse Kyomi Nakakura, gerente do departamento que apoia essa iniciativa na seguradora Nippon Life. “Queremos plantar a ideia de que seremos capazes de ajudá-los para que eles possam continuar a trabalhar para nós”.
A mudança nas empresas deve vir dos chefes, então o governo está financiando programas e palestras para que os gerentes incentivem a licença-paternidade, disse o ministro de Estado para a Igualdade de Gênero, Masako Mori, em entrevista no dia 9 de abril, em Tóquio.
Compensação
“As estatísticas sugerem que a quantidade de licenças-paternidade tiradas pelos pais japoneses é baixa em comparação com a de outros países desenvolvidos, então provavelmente há mais a fazer para mudar isso”, de acordo com Kathy Matsui, a primeira mulher a ser sócia no Goldman Sachs Group Inc. no Japão, conhecida por seus relatórios “Womenomics”.
Ela citou o exemplo da Suécia, que oferece benefícios de licença-paternidade financiados pelo governo.
“O Japão não necessariamente precisa imitar isso, mas algum tipo de incentivo econômico pode ajudar a estimular mudanças de comportamento”.

Fonte: Exame

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