Em museu no Japão, cartas de despedida de kamikazes são reveladas

cartas escritas pelos pilotos kamikazes

Durante a Segunda Guerra Mundial, uma das “armas” usadas pelos japoneses, eram o pilotos Kamikazes. Eram pilotos suicidas que jogavam seus aviões carregados de bombas, contra alvos inimigos. Há exatamente 70 anos, esses pilotos participavam de sua última batalha.
Nas cartas, é revelado como a guerra pode ir fundo na vida das pessoas. Nas missões sem volta, eles escreviam cartas de despedida para suas famílias e algumas delas, foram reveladas só agora.
Em Chiran, no sul do Japão, uma planície cercada por montanhas é coberta por plantações de chá. A ideia que se tem de um lugar assim, é que seja calmo, mas nem sempre foi assim. Exatamente de lá, decolavam os pilotos mais conhecidos da Segunda Guerra Mundial: os kamikazes.
Eram as últimas batalhas a serem travadas na pior guerra da história. Tropas americanas avançavam e a tática suicida poderiam detê-los: lançar os aviões diretamente nos alvos, causando assim, mais estragos durante o ataque.
Na década de 1940, Chiran abrigava um centro de treinamento, de tudo, restou apenas antigos depósitos de óleo e munição. E essa é uma das histórias contadas em um museu, muito frequentado. Onde os mais de quatro mil soldados que morreram nas missões são lembrados.
Este museu, vai além de apresentar algumas peças antigas, tenta nos fazer entender aquele período, aquelas pessoas envolvidas. Para isso, conta com um acervo muito raro, feito de papel e tinta: cartas. Os pilotos escolhidos ficavam sabendo das suas missões somente na véspera. Era quase um hábito, tomavam saquê e deixavam uma carta.
Um dos responsáveis pelo museu, Takeshi, se comove toda vez que lê a carta deixada por Fujio Wakamatsu, como tantos outros kamikazes, um jovem de 19 anos: “Querida mãe, não tenho nada a falar neste momento. Estou indo, com sorriso, para uma missão, que considero como meu último ato de devoção a você. Não chore: deposite doces no meu altar pela tarefa cumprida”.
Takeshi explica que “eles sabiam a importância de defender o país, tinham medo do que poderia acontecer no caso de uma invasão inimiga”.
Em Nagasaki, no oeste do país, um senhor de 89 anos conhece muito bem as cartas, foi ele quem reuniu todas para o museu. Tadamasa Itatsu quis honrar os colegas de farda: durante a guerra, ele foi treinado para ser um piloto kamikaze.
Em duas circunstâncias ele escapou da morte: primeiro, o avião falhou e foi necessário um pouso de emergência, na segunda vez, a missão foi cancelada devido ao mau tempo. “Carreguei durante anos um sentimento de culpa, de vergonha, por não ter morrido como os outros colegas. Para esquecer essa agonia, me dediquei ao trabalho de recuperar os textos”, diz Tadamasa Itatsu.
Itatsu leu todas as cartas e afirma que não há arrependimento em nenhuma delas. A tristeza estava gritante em cada uma delas, mas todos os pilotos eram voluntários.
Por mais que fossem mensagens curtas, como a de Toyoje Shimote, que escreveu apenas: “pela minha nação”, ou até mesmo, símbolos do sacrifício a quem ou o que esses homens se dedicavam. Masanobu Kuno, o tenente-coronel, morreu em maio de 1945, e deixou para seus dois filhos, de dois e cinco anos de idade: “Apesar de invisível, sempre estarei olhando para vocês. Escutem bem o que a mamãe diz e sejam obedientes. Quando crescerem, sigam seus desejos e se tornem japoneses dignos. Não tenham inveja dos outros que têm pai”, escreveu ele.
Em programa chamado “Memória do Mundo”, o governo do Japão quer que as cartas sejam reconhecidas pela Unesco. São documentos que registram ações que influenciaram o curso da história, seja positiva ou negativamente. “Queremos mostrar a crueldade da guerra para o mundo e o que ela é capaz de fazer, como as missões kamikaze. Que essa tragédia não se repita nunca mais”, garante Takeshi.
Fonte: G1

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