Número de pobres no Japão cresce; brasileiros também vivem apuros
Quando deixou
Taubaté (SP), há dez anos, acompanhando o ex-marido numa jornada rumo ao Japão, Priscilla Aparecida Pereira Gonçalves, de 36 anos,
vislumbrava uma vida melhor.
Após apenas um ano de trabalho em fábricas japonesas, ela conseguiu
pagar as dívidas acumuladas de um pequeno restaurante que tinha na cidade
paulista.
Mas hoje, separada e desempregada, os tempos de aperto voltaram e a
brasileira tem dificuldades para pagar todas as contas com os cerca de R$ 2.700
que recebe mensalmente de seguro-desemprego.
Para o governo japonês, Priscilla faz parte de um contingente que vem
crescendo no país: o de pobres.
Segundo um levantamento divulgado recentemente pelo Ministério da
Saúde, Trabalho e Bem-Estar, 16,1% da população do Japão vive com um rendimento
abaixo do considerado limite para a pobreza – estipulado no país em cerca de R$
27 mil por ano.
Isso significa que um em cada seis japoneses vive em situação de
pobreza, uma marca recorde no país.
Para Aya Abe, diretora do
departamento de pesquisas empíricas do Instituto Nacional de Pesquisa da
População e da Seguridade Social, a taxa de pobreza provavelmente subirá ainda
por algum tempo.
"A pobreza não é apenas um problema econômico, mas também
estrutural. Digo isso porque a taxa aumenta continuamente desde a década de
1980, mesmo durante os anos de prosperidade econômica", disse a
pesquisadora à BBC Brasil.
O índice do Japão
tem aumentado constantemente e hoje está bem acima da média da Organização para
a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Em ranking publicado em meados dos anos 2000, o Japão já estava, com
15%, em quarto lugar na lista dos países-membros com maiores taxas de pobreza,
ficando atrás de México (18,5%), Turquia (17,5%) e Estados Unidos (17%). A taxa
mais baixa foi registrada na Dinamarca (5%).
Mães solteiras
Na
pesquisa feita pelo governo japonês, 59,9% das famílias responderam que passam
por dificuldades.
Entre as causas desse fenômeno estão a queda da renda familiar, o prolongado período de deflação pelo qual o Japão passou e o aumento de lares formados por mães solteiras, que geralmente têm emprego de baixa remuneração.
Entretanto, Aya lembra que a deterioração das condições trabalhistas
também colaboraram para o aumento do número de pobres. Um terço da força de
trabalho no Japão é composta por trabalhadores com contratos temporários.
"Esses trabalhadores contratados ganham muito menos em comparação
com os que tem emprego 'permanente' e isso é, sem dúvida, a principal causa de
aumento da pobreza", afirma.
Neste contexto, entram a maioria dos trabalhadores estrangeiros, como
os brasileiros.
Um terço da força de trabalho no Japão é
composta por trabalhadores com contratos temporários.
Priscilla, por exemplo, trabalhou durante quatro anos numa fábrica e
seu contrato era renovado mensalmente.
Ela deixou o emprego no começo deste ano. Fez bicos para poder
sobreviver, mas não conseguia ganhar nem R$ 2 mil por mês, o que era
insuficiente para pagar todas as contas.
"Por isso, completava com o dinheiro das economias que tinha feito
ao longo dos anos", conta.
Mesmo assim, voltar ao Brasil não está nos planos da brasileira.
"Hoje me considero pobre, mas sei que é apenas uma fase. Estou há muito
tempo fora do mercado de trabalho e longe dos costumes do meu próprio
país", justifica.
Pacote de estímulo
Preocupado
com a taxa recorde de pobreza, o governo do primeiro-ministro Shinzo Abe
anunciou em agosto um pacote de políticas para enfrentar o problema.
O Japão auxiliará em custos com educação dos filhos e ajudará adultos
na procura por emprego fixo.
Os críticos dizem que as ações são insuficientes, uma vez que o governo
atual tem uma política clara de proteção ao empresário.
Casos como o da brasileira Priscilla são comuns nas empresas japonesas.
Cerca de 80% dos que vivem na pobreza no Japão fazem parte dos chamados
trabalhadores pobres, de salários baixos, empregos temporários sem garantias e
poucos benefícios.
Geralmente, ganham o suficiente para sobreviver, mas não para ir a
restaurantes, fazer viagens e comprar supérfluos.
"Sempre quando sobra um dinheiro eu faço algo que gosto. Mas
saídas frequentes como eu fazia até o ano passado, compras de roupas, sapatos e
maquiagem já são considerados um luxo", confessa Priscilla.
Sem-teto
No
período pós-guerra, em que muitos japoneses lutaram para garantir comida e
abrigo num país devastado economicamente, a pobreza foi sendo atenuada conforme
a economia japonesa retomava os trilhos.
Pouco tempo
depois, na década de 1970, havia um forte sentimento entre muitos japoneses de
que estavam vivendo em um país mais igualitário, onde "todos pertenciam à
classe média".
No entanto, o abismo entre classes se abriu novamente na década de
1990, após o colapso da bolha econômica. A estagnação econômica persistente
levou as empresas a acabar com o chamado "emprego vitalício", do qual
os japoneses tanto se orgulhavam.
Foi neste período que as ruas das grandes cidades começaram a ser
invadidas por sem-teto. Hoje, somente na capital japonesa, o governo estima em
cerca de 1.700 pessoas que não possuem um endereço fixo.
O número já foi maior, mas o problema está longe de acabar, já que a
taxa de pobreza tem somente aumentado.
Kato Shirai, 68 anos, vive há cerca de quatro anos nas ruas de Tóquio.
Ele guarda cuidadosamente alguns poucos pertences embaixo de uma marquise e
passa o dia todo praticamente deitado. "É para evitar ficar com mais
fome", diz.
Shirai reclama da falta de ajuda do governo e diz que até gostaria de
sair das ruas. "Mas como fazer isso se não há emprego?", questiona.
A idade avançada e o fato de não ter um endereço fixo são empecilhos
para muitos destes japoneses que vivem nas ruas.
"Para sobreviver, conto com a ajuda de voluntários, que vêm
distribuir comida toda noite", conta. "O difícil é quando chove e
neva. O restante a gente aguenta", fala.
Fonte:G1
Sem comentários. Emprego não falta aqui no JP, para quem QUER trabalhar.
ResponderExcluir