Adoção de adultos no Japão
O Japão tem a segunda
maior taxa de adoções do mundo, com 80 mil ao ano. Mas a maioria dessas adoções
não é de bebês ou crianças, mas de homens adultos na faixa dos 20 ou 30 anos.
Isso
tem origem numa prática centenária, que surgiu como resposta ao dilema da
sobrevivência dos negócios familiares sem um herdeiro homem para gerir o
negócio.
A
história tem início no ano 717, quando, segundo conta a lenda, o deus do monte
Hakusan visitou o monge budista Taicho Daishi em um sonho e disse a ele para
encontrar uma fonte de águas termais no vilarejo próximo de Awazu - onde hoje
está a cidade de Ishikawa.
Daishi
descobriu o lugar e ordenou ao seu seguidor Garyo Hoshi que construísse uma
pousada no local.
Garyo
Hoshi, por sua vez, ensinou preceitos do budismo aos visitantes e adotou um
filho como sucessor, ao qual deu o seu apelido de infância, Zengoro.
Assim
teria começado o negócio familiar mais longevo do mundo, segundo o livro
Guinness World Records.
Desde
então, por quase 1.300 anos, o hotel e o nome - Zengoro Hoshi - vem sendo
mantido pela família ao longo de 46 gerações.
Mas
num país em que um filho homem normalmente recebe a incumbência de ser o
herdeiro da família, como eles conseguiram ter sempre filhos homens?
Aí
é que está o segredo. 'Quando havia somente meninas, adotamos o marido de uma
das filhas', diz o último Zengoro Hoshi.
'Decisão
pragmática'
Se
a família não tinha um filho considerado capaz de suceder o pai, tentava
encontrar um homem mais capaz para se casar com uma de suas filhas.
'Era
uma decisão muito pragmática para garantir a sobrevivência do negócio
familiar', observa.
Mesmo
hoje em dia, a grande maioria das companhias japonesas são consideradas
negócios familiares. Elas incluem nomes conhecidos como as montadoras Toyota e Suzuki, a
fabricante de câmeras Canon ou a indústria de molhos Kikkoman.
A Suzuki é conhecida
por ter sido gerenciada por filhos adotivos. O atual presidente da empresa,
Osamu Suzuki, é o quarto filho adotivo em seqüência a administrar a companhia.
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Osamu Suzuki - presidente da montadora Suzuki |
'Negócios
familiares que são administrados por genros estão em muitos casos muito melhor
do que os negócios familiares gerenciados por seus próprios filhos', afirma
Yasuaki Kinoshita, da Nissay Asset Management, que investe em companhias
japonesas.
'Quando
eu tomo a decisão de investir em uma companhia aberta que ainda pertence a uma
família, os principais pontos negativos são a administração corporativa e a
sucessão', diz.
Sobrenome
adotado
'Eu
era o filho mais velho, então fiquei um pouco hesitante de ser adotado por
outra família', conta. 'Mas meus pais biológicos disseram que talvez isso fosse
meu destino.'
Historicamente,
porém, a mudança de sobrenomes não era um grande problema, porque muitos
simplesmente não tinham sobrenomes.
'Há
somente 150 anos, as pessoas não tinham sobrenomes a não ser que viessem de uma
classe social importante de samurais', explica a socióloga Fujiwara.
'E
quando você mudava seu nome, era normalmente porque havia recebido um novo nome
como um prêmio por algo que tivesse conquistado', diz.
Site
de encontros
'Há
seguramente uma demanda, porque a taxa de nascimentos no Japão vem caindo, e
muitos pais somente têm uma filha', diz.
'Muitos
homens também estão procurando oportunidades de usar sua capacitação para os
negócios fora do mundo corporativo, porque no atual clima econômico, subir na
hierarquia das empresas é muito mais difícil', acrescenta Date.
Tsunemaru
Tanaka se inscreveu recentemente no site. Ele estabeleceu um negócio de
sucesso, mas o perdeu para sua ex-mulher, que também era sua sócia.
Agora,
ele quer ser adotado para assumir um negócio familiar.
'Não
tenho problemas em mudar meu sobrenome, porque eu vejo isso como um apelido
dado pelo governo para o registro familiar', diz.
'Tenho
confiança de que meus conhecimentos podem ser úteis, então se há uma chance de
que eu herde um negócio familiar e o torne bem-sucedido, isso seria bom para
todo mundo', afirma.
Ele
já se reuniu com seis mulheres com a ajuda do site, mas até agora não encontrou
sua parceira ideal.
'Eu
procurei informações sobre as companhias que as famílias dessas mulheres
possuem', conta. 'Não vou me casar com suas empresas, mas ainda assim queria
saber mais.'
Expectativas
claras
A
socióloga diz ter descoberto já na idade adulta que seu próprio avô foi adotado
dessa maneira.
'Do
homem adotado se espera que seja um marido e um pai bom e carinhoso e também um
homem de negócios capaz', diz.
Segundo
ela, se essas expectativas ficam claras desde o início, como em um acordo de
negócios mútuo, pode ser mais fácil de administrar que um romance ardente.
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